domingo, 5 de junho de 2011

Flor negra

Sente-se as frinchas cortadas quando o cérebro se esvazia.

Sente-se o sangue coagulado debaixo da pele e as explosões fugazes das paixões a desvanecerem, gritos negros de fraco líquido sanguíneo.

Sentem-se as flâmulas da morte insone que me foste dando no meio das palavras, esgotos contaminando as minhas veias como quem acha um decapitado.

Sente-se a tua voz estridente incendiando os luares que deixaram de existir.

Sente-se a frívola dor do pesadelo que enxertaste violentamente em mim, que prometeste não deixar cair em cancros forçados, sentimentos arranhados pela lâmina com que me desfizeste.

Sente-se em todos os lados escuros o teu álcool grosso, os teus ranhos congelantes, as cinzas que tornas os humanos.

Sente-se a morte lenta a afogar os sonhos e os universos falsos entre as tuas coxas e os teus lábios.

Sente-se a tua língua mole, quase morta, a contorcer-se entre os pensamentos frios e duros dos homens.

Sente-se a ti, só isso, a passar no obscuro de cada cérebro inteligente e matá-lo nos sorrisos dos monstros, na brancura dos teus dentes canibais.

Sente-se a tua voz como serras que mutilem ossos e lágrimas.

Sinto-te, tão bem como sinto o meu coração a derreter no sangue coalhado dos loucos.

Sinto-te como quem sente os infernos cervejando a glória dos diabos…

…e, mesmo assim, vou-me lembrando de flores.








Saintbroken 5.6.11

Nenhum comentário:

Postar um comentário