quinta-feira, 7 de julho de 2011

acabou

Deixei-te um sonho que já não arde. Que já não crepita, já não respira. Abandonei-te sob as margens etéreas do nosso passado, aquelas onde nos costumávamos beijar e abraçar. Em breve, entre lâminas e sagas, escreverei histórias sobre nós e nossa falência quase crónica. Porque nunca nos fomos destinados, nunca escrevemos no mesmo papiro ou no mesmo livro. Fomos, um por si, dois. E por isso te deixei nisso, nessa espécie de alavanca estragada, morta por futuros que nunca existirão. Eis agora que, entalados nestes momentos frios, vejo passarem-me pelos olhos os segundos em que não sosseguei, que não consegui descansar nos teus olhos, que não saboreei os teus lábios. Vejo-te perdida na cordilheira que é a solidão, balançando nas montanhas, segura apenas pela esperança vazia com que tentas manter a nossa relação. A relação que eu matei, asfixiada ao limite…hasteando sobre o seu sangue uma bandeira quase suástica. Larguei a tua mão no meio do deserto, no oculto negro com que se destroem nações inteiras, com aquele único número que desactiva o motor que gira o mundo. …Não percebo até onde vai o meu atrevimento, não prevejo até onde escreverei isto, esta coisa, esta condenação.

Enforquei-te e deixei-te pendurada. Depois, com o cadafalso caído, contorcias-te e eu via, neutro, imóvel. De quando em vez gritavas no sufoco, clamavas pelo meu nome e pelos beijos que, por meses, ansiaste. Morreste em frente a mim e eu observei. Quase que me lembro de tudo. A nossa relação, contigo dentro, a desesperar, a ficar, a engolir-se. O universo - agora o sei - fez em ti o desígnio que eu, ostensivamente, procuro. Tu, na tua beleza óbvia, mostraste-me o poder que existe em cada molécula, em cada pesadelo, em cada toque. E eu percebi que há poderes inexpugnáveis…e outros que não.

Eu olhei-te. Estavas estendida sobre ti no meio da sala. Tinha-te deixado na forca da nossa relação. Foi aí que eu disse: “Acabou.”…tu respondeste: “Eu sei.”

…e só aí….eu chorei.







7.7.11

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